GOSTEI DO TEXTO E REPUBLICO AQUI NO BLOG
ACIMA UM TEXTO MEU INSPIRADO NELE.
Ontem, minha amiga Rosaline me enviou uma mensagem onde me convocava: “Lucio, fiquei sabendo que você escreveu sobre isso”. Ela se referia a um e-mail em massa de intensa circulação que explica, de forma pretensamente articulada e pessoal, como a candidata à presidência Dilma Roussef estaria impedida de entrar em países importantes como os Estados Unidos. O texto usa argumentos rasos como “A pena é bem grande e não há como pensar em liberdade condicional. Lá o crime não prescreve!”
Na verdade, já havia postado alguns comentários sobre esse assunto no Facebook, mas a Rosa me motivou a tentar desenvolver a questão, após constatar que o ocorrido acima representa com precisão uma queixa comum, embora incoerente, de muitos brasileiros.
Uma das reclamações freqüentes que leio em redes sociais e outras páginas com comentários online é que “o povo brasileiro é muito mal-informado e, por isso, escolhe mal os seus representantes”. Nas entrelinhas ou mesmo de forma explícita descrevem esse povo como sendo as “massas de baixa renda”, aqueles com “baixa escolaridade” e/ou outros brasileiros de “extirpes” que não os “sulistas”, os “sudestinos” e, quiçá, os “centro-oestistas”.
Para desconsiderar a propriedade de certos argumentos e eleger outras noções mais generalizadas como aquelas que vão estimar e defender, esses “reclamões” se embasam em fugazes premissas:
- Primeiro, no valor de seu feito educacional, isto é, terem passado pela universidade – não se importando com que afinco se dedicaram à aquisição das informações disponíveis enquanto estavam lá.
- Depois se apóiam no seu “conhecimento maior” do mundo, estabelecido por seu acesso à Internet, aos canais de TV a cabo, a um cruzeiro pela costa, ou roteiros turísticos pelos pontos ícones das capitais européias. Também é comum dizerem “porque a gente sabe o que é bom”. Às vezes, o que julgam enobrecer sua visão de discernimento é ter (tido) acesso à companhia social da elite e usufruir de serviços requintados destinados a ela, como festas regadas a algum bom e caro espumante francês. Esses contatos e experiências exclusivas, em seu julgamento, por si só aumentam muito a sabedoria, pois “o povo não sabe o que é bom.”
- E finalmente, mas não menos importante, fundamentam seu juízo nas manchetes jornalísticas. Essas últimas, sim, lastram a sua auto-estima e confiabilidade em relação ao seu “estado” de pessoas bem-informadas. Porque, para a maioria delas, a informação é um estado das coisas; troca-se dinamismo por “status.”
Então, ter lido o cabeçalho do e-mail ‘amigo’, a manchete da ‘acreditada’ Folha, a capa da ‘tradicional’ Veja e ter ouvido algo pela voz do ‘bonzinho’ William Bonner enquanto se cruzava a sala são circunstâncias suficientes para que uma grande parcela dos zangados se considere mais bem informada que o “povão”. Aqui é bom lembrar que argumentos produzidos por ídolos e celebridades da TV, do esporte e da música se tornam tão preciosos para adequarem sua opinião quanto para sedimentarem suas crenças frágeis e incipientes. Se essas celebridades são bem-informadas e coerentes não lhes importam. Sucesso financeiro e acolhimento pela elite midiática são geralmente suficientes para se ganhar credibilidade.
E que diabos então seria esse “senso crítico” de que sentem falta no “povo”? O ‘senso crítico’ estatutário que se ganha ao nascer em degraus acima da média da classe média? De ter percorrido os níveis de um curso superior ou ter passado algumas vezes em um museu de arte, durante o coquetel? De saber o que está na moda e quando o chique vira brega e o brega se torna chique? Que se ganha ao entender a piada daquele ‘inteligente’ programa de humor, sem notar o quanto é anacrônico e preconceituoso? Que se ganha ao olhar o Brasil em direção ao mar “exageradamente próximo” da África, mas tão distante da Flórida e Europa recreativas?
Onde está o “senso crítico” de quem, mesmo com todo o acesso à informação, estaciona na superfície e mostra sua hipócrita indignação com os desinformados? Que não verifica os fatos, as versões, as fontes, os motivos e nem olham para si antes de dizer: “como os brasileiros são burros”? Que clamam por educação para os outros sem usar, desenvolver ou articular a sua própria?
Nesta época de eleições, onde uma investigação ainda mais profunda e honesta das informações se faz necessária, o que mais tenho visto são opiniões caprichosas e pueris tais como “não vou com a cara dela”. Vontades frívolas e antipatias obscuras – que desconsideram as possibilidades de ganhos coletivos – disparam opiniões de ódio e aversão, replicadas pela mídia e pelas redes sociais. Não se avança argumentos; vocifera-se xingamentos, rótulos ofensivos e clichês grosseiros criados astutamente para dar aos incautos um sensação de razão e discernimento.
Através do próprio desengajamento que criticam em outros – geralmente afirmando “detestar política” – esses “protestantes” permitem se afiliar a uma cultura de “meio-informados” e “medíocres”, vítimas de uma parte onipresente da grande mídia, manipuladora e igualmente caprichosa que há muito perdeu seu sentido e usa factóides e leviandade para tentar promover sua informação estatutária, base de seu poder e de suas prerrogativas. Dessa forma, a mídia macarthista consegue usar esses asseclas como zumbis para avançar seus interesses que, no fundo, beneficiam pessoas e grupos poderosos que vêm perdendo muitos de seus privilégios e exclusividade em um sistema que busca ser mais justo e plural.
Desse modo, um exército de “seguidores de um jornal só” se alimenta e propaga noções infantis, simplistas e deturpadas como as de “indignados versus corruptores”, “anjos versus demônios”, “amigos dos EUA versus amigos do Irã” e “letrados versus analfabetos”. E onde está o senso crítico para perceber a ingenuidade em acreditar que a oposição, com essa onda de denúncias de última hora e amparada pela mídia voraz do “bonde-andando”, somente quer acabar com a corrupção? E cadê a perspicácia para notar a atitude maniqueísta onde a corrupção é só problema do outro? Se a oposição estivesse realmente interessada em acabar com a corrupção teria ido até os extremos em denúncias e inquéritos passados. (E, conseqüentemente, teria chegado ao poder.) Mas só foi até o ponto onde recebeu sua própria intimação quando, então, preferiu se solidarizar com os acusados, por complacência originária de coleguismo e empatia, mas vulgarmente conhecida como “rabo-preso”. Já em relação à mídia que, nesse caso, diz lutar contra a corrupção, deveria trocar o ineditismo por um acompanhamento mais longo, claro e consistente e ser corajosa o suficiente para dizer qual é o seu motivo.
Aqui gostaria de abrir parênteses e dizer o que penso sobre a eliminação da corrupção em um país como o Brasil. Compartilho de uma visão pragmática sobre a eliminação da corrupção de que nenhum líder pode simplesmente aboli-la de uma vez só, mas “perfurando” e “avançando” através de um sistema corrupto, líderes possam estabelecer bases de governos mais límpidos e justos de forma que a corrupção se reduza gradualmente através dos anos (como aconteceu na Europa no século retrasado, por exemplo). Sou contra a corrupção, mas também acredito que ela advém de um péssimo e insistente traço histórico e cultural em nosso país. No entanto, conclamo todos a rejeitarem-na veementemente, mas não apenas no outro ou nos políticos no poder, mas a cada instante, mesmo em pequenos gestos de nossas vidas diárias, nas filas, no trânsito (inclusive ao ser parado na blitz), em casa ou de férias, nas oportunidades de crescimento profissional ou pessoal, quando se aparece na TV ou anonimamente, ao postar um comentário na Internet, onde se requer honestidade, rigor e isenção, ou ausência de corrupção.
E voltando ao tópico, para concluir, gostaria de encorajar as pessoas a se expressarem livremente, pois isso é permitido neste país. Que demonstrem seus desejos e insatisfações. Que denunciem a injustiça e proclamem as boas-novas. Que usem sua indignação para conquistar a felicidade e o bem-comum. Mas, principalmente, convido todos para se dedicarem à educação libertadora, à informação consistente; a investigar as verdades ligeiras e absolutas e averiguar seus motivos; a checar as manchetes estabanadas; a questionar os propagadores da histeria, criadores do pânico moral e fomentadores da caça às bruxas. Estalemos os dedos e não nos deixemos transformar em Alices atormentadas por um mundo Macarthista louco e sem nexo, querendo nos recolonizar, nos fazer sentir incapazes e inferiores, e tentando nos convencer que o bom está fora de nós, em uma distante e elusiva metrópole da qual só somos convidados eventuais; fantoches boquiabertos, semi-informados e alienados.
Luc Antunes
http://caldeiraodoluc.blogspot.com
Coisas de Destaque
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